30.11.07

sem capítulo

Não, hoje não sou mais feliz porque nem fui convidado para a Ceia do Senhor. Olho para o nada e fico aí contemplando a efemeridade da vida, esta desvida na qual me colocaram já há anos e nunca se lembraram de me tirar. O meu lugar não existe. Não fui convidado para a Ceia do Senhor, não fui convidado para o manjar dos deuses no Olimpo, não fui convidado para sambar na Sapucaí, não fui convidado para o chá da ABL, não fui convidado para sentar-me à mesa dos editores, não fui convidado para corrigir o vestibular, não fui convidado para a festa da casa da Mãe Joana, não fui convidado para o Encontro Nacional dos Criadores de Sacis Verdes, não fui convidado para disputar a Presidência da República, não fui convidado para integrar a Maçonaria, não fui convidado para dormir na minha cama. Não fui convidado. Então não fui.
Enquanto isso, penso que penso. Mas quem pensa que não pensa também está pensando.
- Cala a boca!

29.11.07

intradução ao proema

Anoitercia
E, triste, o trópico atracou no Atlântico
Anoitercido
O que seria ter sido se não fosse terça?

Este tópico é um traste que atrasou o proema
Todas as partes estão quebradas
Só funcionam:
- O sopro do céu que sacode montanhas
- A estrela colada ao anoitercer
- O proema intraducionado que virou borboleta
- A dobra do mundo dentro do bilhete

Anoitercido sussurro quem-teve-você
E se não fosse?
Todas as putas estão compradas
Não funcionam:
- Querem beijar o barulho do silêncio
- À nua tercem o que se terçam estrelas
- Proematizam os deitares, os ires, os vires, os desvires
- Cobram (pouco) pelo impagável.

Agora dentro é o eco do vazio
no cio da mente
no ócio demente:
Aumente.

28.11.07

preâmbulo

Querida irmã,

Ontem, todos construirão seus sonhos atrás da porta. Conhecerão a palma da mão como se fosse o mundo todo e ninguém por certo saberá esse negócio do sabiá saber mesmo assobiar a melodia.
Na verdade eles pensavam estar em um quadro do Dalí só porque os relógios escorriam dos galhos das árvores. Jamais perceberão que as árvores eram pés de tempo lutando contra o vento pra que o fruto maduro não caísse nem caia nem caberá. Temporal? Temporão.
Chegou um dia em que conhecerão que o mundo era bem maior que uma tela de Dalí. Dali a pouco migravam todos rapidamente para o quadro ao lado e o quadro ao lado, que surpresa!, será um perfeito quadro do Escher. Ali aprenderam a brincar de escorregador nas perspectivas nada sóbrias do universo genial do pintor.
Quando enjoarem de tudo, reuniram-se em assembléia deliberativa e, por sete votos a dois, fica decidido que iriam todos dormir. Pulariam para "A Noite Estrelada" mas Van Gogh já morre sem suas orelhas.
Enfim, pode ficar tranqüila que continuamos atentos observando os desvios e peculiaridades desse estranho grupo de gnomos cor-de-abóbora.

Um beijo,
Eu.

A partir deste post...

correndo
da carranca
do carimbo,
caramba!
(HISTÓRIA
INFANTIL
PARA
ADULTOS)

27.11.07

Promessa

Este negócio vai voltar a funcionar. Aguardem.

21.11.07

De merda

Na vida bato o olho
e escolho;
Nem sempre o melhor
- quase nunca o melhor.

Depois é a velha história
das barbas de molho
e dos tomates que colho
e jogo
nas regras do jogo.

Bom mesmo é esquecer
o que escrevi.

Ensaio

Quando tudo dói. Saudades de mim. Quando eu era inteiro. Você pela metade. Um assunto em três vias. Nada de importante. Para fazer. Para ser. Para pensar. Para agir. Viajar.

Quando tudo dói. Saudades de você. Quando você era inteira. Eu pela metade.

20.11.07

Maldita plaquetinha amarela

Nela escrito: NÃO HÁ VAGAS. Em letras garrafais. Em caixa alta. Em decepção plena. Na testa das pessoas que podem dizer sim e não.

A vida é isso. Covardes conversam, corajosos silenciam. Dores em todo o corpo antecipam o Natal. O que sobra é a tabuleta, a maldita plaquetinha amarela. NÃO HÁ VAGAS. Nem para o pensamento, nem para as origens, nem para a criação. Só angústia, problemas e soluços.
Mas eu não posso falar. Li frases lindas, mas não posso falar, não ouso repeti-las aqui, não ousaria chamá-las para integrarem-me. Não posso falar porque tenho a língua cortada, a boca cerzida, os dentes arrancados um a um – e este vazio bucal dói, dói, dói. Eu não posso falar porque me perdi na beleza do rosto da moça, me perdi no sorriso amendoado, no olhar puxado, no nada que encerra a totalidade dela. Além de tudo, além do mais, poeta.

19.11.07

SincoCentidos

Tato pra tocar olfato pra cheirar paladar pra gostar audição pra ouvir visão pra crer. Tato pra pele. Olfato pra nariz. Paladar pra boca. Audição pra ouvidos. Visão pra olhos. Na cama, tato pra pele, olfato pra pele, paladar pra pele, audição pra pele, visão pra pele. Tudo pra comida, na mesa. Tudo pra tédio, no trabalho. Tudo pra silêncio, no sono. Tudo pra tudo, na poesia. De sentir.

- Vem cá?

Quando ninguém está

Eu também finjo que não sou.

*

Asterisco.
Como um nome na agenda do celular.

Dentro do espelho...

... há duas caixas cheias de revistas velhas e sonhos novos;
... há uma almofada alaranjada;
... há cinco aquários vazios;
... há um sem-número de insetos mortos.

14.11.07

Aforismo com cara de solecismo

Não existe jornalista sozinho. Existe é jornalista solitário.

13.11.07

Alguém ainda vem aqui?

Eu não.

Espirro

Vou escrever um texto.

Não vai mais ter Copa, nem Olimpíadas, nem eleições, tampouco conclaves papais ou exames de papa-nicolau. O mundo constipou e resolveu que vai se casar.

8.11.07

V.

Bloguista entende: patinetes, férias, outono. Poxa, quem foi a inteligência branca que bolou essa tranqueira toda?

IV.

As idiotas de papel me agridem. Socorro. Como se eu gostasse de alaranjado ou fúcsia. Que sei lá o que significa.

III.

Como sempre soube cultivar amizades vermelhas. Se um deles (meus amigos) virar presidente, serei ministro da Cultura. Se um deles (meus amigos) virar governador, serei secretário da Cultura. Se um deles (meus amigos) virar prefeito, serei vereador só para cassá-lo. De raiva, mesmo.

II.

Prometo que um dia escrevo aqui a história do homem que falava com repetição. Não, não é eco. Eco até que é simpático, tem lá seu quê poético. O homem reverberava mesmo, fingindo bem o imbecil, que era, e, ao mesmo tempo, tratando de violentar a inteligência de todos os que teimavam em permanecer ao seu redor, dentro do seu carro azul-marinho.

I.

É como se eu plantasse plantas escuras. Plantas verde-escuro. Plantas negras. Plantas cinza. Cinzas de planta, depois. Aí se acabam e vêm as palmas. Que ninguém vê, ninguém ouve, ninguém percebe. Ninguém.

1.11.07

Das ciências

Das fezes

Das traições

Dos indivíduos

Das lágrimas

Das cores

Das filosofias

Das humanidades

Dos álibis

Das possibilidades

Dos medos

Dos problemas

Das coisas